APAGÃO DE IDEIAS.

by 11:08 1 comentários
O dia tinha amanhecido mais claro que o normal. Os olhos de Samuel quase não se abriam, seus olhos enxergava poucos metros a sua frente até que se acostumaram com toda a claridade em excesso.

Foto: Daniela Soares
Era dia, ele sabia disso, pois, ontem a noite, quando largou a máquina de escrever foi logo se deitar, esqueceu até mesmo de escovar seus dentes. Samuel ficou deitado no quarto olhando para a lâmpada no teto, como se fosse o céu. Imaginava ali, um final para o conto que não havia conseguido terminar minutos atrás.

Pouco a pouco ele foi adormecendo. Sem nenhuma ideia. Adormeceu debruçado para cima, olhando para o brilho da lâmpada. Esta que, passou a noite em claro cobrindo Samuel com sua claridade.

Nessa manhã extremamente clara, Samuel se perguntou o que é que havia acontecido para o dia estar tão luminoso. Quando abriu os olhos, pôde ver pouco do seu quarto. Notou que a luz havia sido apagada. "Foi minha mãe, provavelmente", pensou.

Samuel se levantou, foi ao banheiro, não conseguia se ver no espelho, mas não se questionou sobre isso, e continuou sua rotina. Sam, como seus pais lhe chamava, higienizou-se e depois foi para a cozinha. Tentou acender a lâmpada, mas não conseguiu, verificou também a da sala, por fim percebeu que estava sem energia. Pensou na lâmpada do quarto, cogitou a possibilidade de não ter sido a sua mãe que a apagou.

 Não havia ninguém em casa, todos já haviam saído, porém haviam deixado o café da manhã pronto. Pão integral com ovos mexidos e café puro. "O meu preferido", refletiu.

Um estranho silêncio pairava sobre a sala, ouvia-se o relógio da cozinha, um metódico tic-tac que pouco a pouco aumentou o incômodo de Samuel. Ele se levantou da cadeira, foi pro sofá, e tentou em falhas tentativas ligar a televisão. Quase se estressou, mas lembrou-se que não havia energia.

Samuel colocou o copo de café no chão, e caminhou até a tomada para remove-la. "Sempre que faltar energia, desligue a tomada dos eletrodomésticos, porque quando a energia voltar, pode ser que danifique o aparelho", ele se recordou do conselho do pai. Agachou-se e retirou a tomada. A televisão deu um pique de energia, mas ele deixou pra lá.

Ele foi até a janela, que estava com cortina fechada, abriu-a, e deixou uma maior claridade invadir toda a sala. Era quase impossível enxergar qualquer coisa na sala. "Está tudo muito claro, o que será que houve?", pensou. Quando foi para fechar a cortina, Sam percebeu várias vozes murmurando, o barulho invadiu a sala de repente.

Ele escutou por algum momento o que as vozes diziam. Sentiu-se incomodado com o que falavam sobre o clarão, uma das vezes disse que vinha dali, do apartamento 404. Samuel fechou novamente a cortina, tentando cessar ao máximo a claridade que invadia a casa.

Pensou no que fazer. Mas não fez nada. Apenas decidiu esperar a luz voltar.

No caminho de volta para o sofá, Samuel viu a máquina de escrever, parada ali, com um conto incompleto. Ele foi até ela, e releu alguns pedaços daquilo havia escrito na noite passada. "Ainda dizem que escrevo bem" pensou ele rascunhando um pequeno sorriso.

Samuel releu a última parte do texto que contava como o seu personagem não conseguia finalizar sua crônica. Samuel apagou o rascunho de sorriso, ficou sério novamente, coçou os olhos, se incomodou novamente com a claridade mas não reclamou. 

Decidiu voltar para sofá. Jogou a folha sobre a mesa da máquina de escrever a caminhou para o sofá.

Samuel sentou-se, colocou sobre o colo o prato com o pão e ovos mexidos e esticou o corpo para pegar o café no chão. Ao aprumar o corpo novamente, com o copo na mão, deixou o prato virar sobre o colo, assustado, o café quente derramou-se sobre ele. Ele gritou. No mesmo instante, ventou, e a claridade novamente tomou conta da sala, cegando-o.

Acordado, Samuel se depara com luz ainda acesa, vê que se passaram apenas alguns minutos desde abandonara o seu conto. Levantou-se, foi para a sala, sua mãe assistia a novela das nove enquanto comia. Sam foi para a cozinha, e preparou um lanche, pão integral e ovos mexidos, como de costume. 

Foi para até a janela com o prato na mão, olhou para fora, viu algumas crianças brincando na rua e quando voltou seu olhar para dentro viu a máquina de escrever com a crônica parada ali, pela metade.

Ele foi até la, sentou-se, colocou o prato ao lado da máquina de escrever. Tinha na cabeça uma ideia para terminar sua crônica. Imaginou dar como final, o sonho que acabou de ter.

Ele começou a digitar, escrever sobre o personagem que havia acabado de se deitar na cama e que caiu no sono. Minutos depois, ouve-se um estrondo enorme, sua mãe grita, ele se assusta, para de escrever, bate com a mão no prato e o derruba seu pão com ovos mexidos. Não consegue ver nada. A energia havia acabado. 

Na casa de Samuel estava tudo escuro, exceto a cabeça de Samuel, ela estava acesa, cheia de ideias para terminar sua crônica, mas que neste momento, teria que ser interrompida, porque não tinha como escrever no escuro. 


Samuel acabou sua crônica no outro dia, pela manhã, quando já há era claro e mesmo que ainda sem luz, poderia continuar escrever sua crônica.


Alexandre Miguel

Developer

Mineiro, Belo Horizonte. Estudante de Letras na UFMG. Aspirante a professor e poeta nas horas vagas. .

Um comentário: